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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A "Música" da Vida

Hoje, em mais uma consulta com a minha psicóloga, falámos de Música.

E sobre a forma como a música me afecta.


De momento estou a ouvir uma música que me veio à cabeça enquanto escrevo este post... Rita RedShoes - Choose Love.

Não consigo explicar bem o que estou a sentir agora... parecem tipo faquinhas a espetarem-se em mim. E estou a resistir e a habituar-me à ideia de que a música nao tem necessariamente de me continuar a assustar e a fazer mal como até hoje fez.


Parece-vos estranho? Sim, é.

A verdade é que desde miuda que sempre adorei cantar, adorei dançar, adorei ouvir música fechada no quarto...até uma certa idade. Talvez quando começei a tomar cosciência das coisas (por volta dos 13). A música passou a ser algo que me deixa bastante revoltada e triste...nostálgica... Começei a associar a música a algo triste e raramente algo feliz. Rara é a música que consigo ouvir sem ficar pensativa ou sem dispertar o meu lado mais magoado, ressentido. Mas...sim! Há certas musicas que me deixam totalmente aos pulos e feliz (Walking on sunshine, por exemplo!), mas nao podemos passar uma vida inteira a ouvir 5 ou 6 musicas e a rejeitar constantemente ou a olhar para o rádio do carro de alguem que nos deu boleia como um bicho assustador.

É que acontece literalmente isto...eu entro no carro de alguem, e se essa pessoa estiver a ouvir musica eu tento arranjar forma dela a baixar, encontrando um tema longuissimo para falar ou entao vou o tempo todo a tentar arranjar formas de nao prestar atencao à musica.

É nestes dias, em que ando mais em baixo e todas estes pensamentos vem à cabeça, como o da Música hoje, que me apercebo que tenho realmente muita coisa do passado que me afecta e marca ainda hoje. E preciso mesmo de arrumar o passado, conseguir resolve-lo na minha cabeça, aceitá-lo, e seguir em frente.

Quando era miuda, a música surgiu como um símbolo de algo violento.

Lembro-me que com medo que os meus pais estivessem a discutir no quarto, ouvia a musica muito baixinho ou metia os desenhos animados no volume minimo para poder socorrer a minha mae caso o meu pai tivesse mais um "ataque...". Na altura parecia-me natural proteger a minha mae, e tentar resolver a relaçao "amorosa" deles. Sempre me vi como a pessoa que está cá para salvar os outros. Salvar os meus pais, para começar.

Associo também a musica aqueles dias de Natal terriveis (que ainda este ultimo 2009 foi igual), em que o meu Pai metia a música a dar aos altos berros durante dias e dias e apenas durante a noite desligava... Dizia ele que tinhamos de aproveitar o Natal para nao ver televisao e ficar apenas a ouvir os CD's e LCD's que nos davam durante o ano. E nao sei porque...talvez por ele ter sido sempre uma pessoa tao violenta, metia aquela porcaria no máximo...dava-lhe prazer ouvir a música a um volume impossivel de aguentar... ou talvez o objectivo dele tenha mesmo sido sempre atormentar-nos...

Sim, aquela musica atormentava-me... Ele atormentava-me...

Cresci no medo durante dias e dias e dias e dias...a ainda poucos dias antes dele falecer em passado Março, senti medo dele.

Alguns de voces poderão pensar "Entao marta, mas agora ja ca nao tens essa pessoa que tanto tormento te causou! Agora aproveita!...Foste aceite para estagiar nas Nações Unidas, em Nova Iorque, vais realizar um dos teus maiores sonhos, vive!" ...

Sim... concordo convosco... Mas.... Percebem?

Habituei-me a viver a vida toda sem poder falar, dizer o que penso sobre A ou B, sem poder levantar a voz, ser quem sou, tomar decisoes por mim, depender de mim... Aprendi sempre a que tenho que me encostar a alguem, preferencialmente superior a mim e junto de quem me sinta inferiorizada, para que tome decisoes por mim.


Pratico meditaçao, sou uma pessoa espiritual, sei que tenho Luz dentro de mim, sei que tenho tanto para dar aos outros e tambem a mim mesma, sei que sou genuina, uma mulher forte que conseguiu, apesar de tudo, ultrapassar um choque muito grande durante uma infancia inteira sem ficar inteiramente louca (só um bocadinho). Sei disso... sei que tenho de ser positiva, aceitar o que já passou, viver para a frente, deixar para trás o que me atormenta.


A verdade é que a minha vida nao foram so memorias tristes... tenho tambem memorias muito felizes, mais recentes, mas felizes. E sim, sem duvida, encontrei uma grande parte da minha felicidade comigo propria, junto de alguem. E essa pessoa conseguiu-me realmente fazer feliz. Ate ao dia em que deixei de aproveitar a felicidade que essa pessoa me transmitia... porque era tao boa que tive medo de a perder. Passei nessa altura a depender dessa felicidade, vivendo-a na verdade através da outra pessoa... passei a depender do que aquela pessoa me transmitia para ser feliz, em vez de aproveitar o quao essa pessoa me demonstrou o quao posso ser feliz por Mim, e aproveitar. Mas...todos erramos, e todos aprendemos tambem.


Estou agora a entrar numa nova fase, e estou confiante que o meu lado mais sensivel e espiritual irá ajudar-me a meter "os pontos nos i's" na minha cabeça. Finalmente aceitar que sim tenho um passado que me pesa, mas que já deixou de existir... e que deverei sim respeitar tudo o que o passado me ensinou, e tirar as liçoes que tenho de tirar de tudo isso, mas seguir agora de cabeça erguida para atravessar o tapete vermelho que a vida me está a colocar diante dos meus pés.

Sozinha, ou de mão dada com alguém... Isso sao apenas pormenores. O que importa é que em qualquer uma das situções eu esteja resolvida comigo, desejosa por me conhecer ainda melhor e fazer por MIM acima de tudo o resto. Gostar de mim, do que sou, acreditar em mim para desta forma poder dar mais aos outros.


Cada vez mais me fascina o poder da mente humana... Com tudo o que tenho passado sinto mesmo que a mente humana é a razao de muito mais coisas do que possamos alguma vez imaginar. Sinto mesmo as oscilacoes da minha cabeça, o bom e o mau... a forma como certas certas coisas me afectam o meu dia, os meus momentos, tudo em meu torno... a minha luz e energia...!


........Consegui aguentar umas belas 4 músicas da Rita Redshoes enquanto escrevi este post :) ...

E ainda por cima musicas romanticas, o que sempre foi ainda mais dificil para mim de ouvir.

Quem saiba a musica nao passe a ser o inverso... nao venha a ser uma terapia para mim :)


Os dias vao passando... os últimos tenho-me sentido novamente bastante em baixo, mas sei que estou a caminhar pelo caminho certo... estou a aprender o que tenho a aprender e tenho apenas de ganhar um pouco mais de determinaçao para tapar este buraco para onde as vezes ainda me esquivo. O conforto da zona triste... Porque habituei-me tanto a viver nela que as vezes quase parece mais confortável.

Rita Redshoes - Blue Bird in a Sunny Day.

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